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Pulando na jugular do oponente

Para operar grande e mudar de patamar, é mandatório identificar as situações de risco quase nulo e então apertar o gatilho, pulando na jugular do oponente. Isso não se faz na base da adivinhação, mas sim utilizando indicadores que servem como uma bússola para o investidor eliminar os ruídos e extrair os sinais puros.

Considerações iniciais

George Soros gosta de afirmar que quando se tem convicção, você deve pular na jugular do oponente. Falar é fácil, duro é na hora de executar essa estratégia. Para operar grande, envolver todo o seu patrimônio financeiro e mudar de patamar, é mandatório identificar as situações de risco quase nulo. Somente se consegue implementar essa estratégia se você se guiar pelas forças que movem o mercado.

O emprego de indicadores técnicos desde que bem escolhidos e uma boa noção de price action prestam um inestimável trabalho no timing, mas irão sinalizar apenas se a pista está limpa sem, contudo, assegurar por quanto tempo uma posição poderá ser mantida com risco baixo de se deparar com um caminhão desgovernado em uma curva. Quem se guia somente pelos indicadores técnicos tende a abandonar prematuramente uma posição vitoriosa e passar a vida beliscando aqui e acolá, correndo o risco, desculpe a expressão chula, de comer formiga e cagar elefante.

O propósito desse meu comentário é mostrar um pouco de como o método Mercado em Quatro Dimensões funciona em tempo real. Mas lhes garanto, para puxar o gatilho na hora certa tem que ter cojones.

 

Pulando na jugular do oponente

É óbvio que em hindsight fica fácil afirmar que deveríamos ter comprado em um determinado instante por isso e aquilo e entregue a posição no momento tal, por tais e tais motivos. O problema é quando se decide sem ver o lado direito do gráfico. Só tem um jeito, achar uma boa bússola. Vou mostrar uma parte dela.

Para operar big, very big, são necessários muito mais do que indicadores técnicos, tem-se que descobrir os indicadores macroeconômicos que antecipem o mercado, porém com um lead time (tempo de antecipação) que não seja muito longo, senão se aproveitará apenas a entrada, deixando o banquete para o seu oponente, e nem tão tarde quando já não há nada mais o que fazer. Conta-se nos dedos os indicadores com tais propriedades. Quando esses indicadores derem o sinal, saia da posição sem muitas perguntas, pois a resposta virá mais adiante, porém aí poderá ser tarde demais.

Um pouco de “causo” ilustrará bem como um famoso player operava, insider diga-se de passagem. Me refiro ao banqueiro Rothschild no século XIX. Conta a história que Rothschild usava um pombo-correio por não confiar nos informes oficiais. Durante a batalha de Waterloo, em 1815 (ou algo em torno de) ele recebeu uma mensagem através de um pombo-correio de que a Inglaterra havia vencido a batalha, que era uma boa notícia para o mercado inglês. Imediatamente ele começou a vender com muito alarde. Com a fama de ser um especulador bem informado, uma tsunami de vendas se abateu sobre o mercado, quando ele então passou a comprar pelas beiradas, montando toda a sua big, very big position. Porém como ele saía de sua posição? Tem uma famosa frase lapidar de sua autoria em que ele dizia que somente sobreviveu ao mercado porque ele nunca foi guloso a ponto de esperar pela sobremesa.

 

O final do bull market em 2007

A partir de julho de 2007 o ar começou a se infestar de enxofre. Os tais indicadores macroeconômicos antecedentes começaram a se envergar para baixo e não havia guindaste para fazê-los subir. Enquanto isso, o SPX somente foi abatido em outubro de 2007, quatro meses depois dos indicadores.

Muitos sabem da importância desses indicadores, mas não os alardeiam, e mesmo que os fizessem, como alguns fazem e de modo destrambelhado, o mercado sempre fará de tudo para que o investidor comum duvide do óbvio. Constato isso há mais de 40 anos. Progredimos no front tecnológico, porém a dissonância cognitiva apronta armadilhas até hoje, inclusive para os grandes players.

Quem não se lembra da tese do decoupling dos emergentes, que estavam imunes à débâcle nos mercados desenvolvidos, defendida pela banca internacional? Claro que essa tese em parte foi alardeada por ignorância, mas também por esperteza. Afirmo isso porque eu já estive desse lado, quarenta anos de mercado e tendo trabalhado em diversos bancos de investimento, passando por cargos desde analista até diretor de mercado de capitais, já me fizeram conhecer um pouco do “behind the scenes” e saber que nem toda informação é transmitida sem segundas intenções.

A figura abaixo mostra um dos indicadores a que eu me referi, na cor vermelha, e o SPX semanal na cor preta. O gráfico abrange o período entre julho de 2007 e dezembro de 2009. Este indicador tem o mérito de identificar o glorioso momento da onda 3, como assim denominam os que abraçam a teoria das ondas de Elliott. Confesso que a acho vibrante, mas em cada 100 tentativas eu acerto uma contagem em tempo real. O que eu faço então é deixar a minha bússola apontar esse mágico instante do mercado.

 

Figura 1 – SPX (em preto) e indicador macro utilizado pela Quad (em vermelho).

 

O indicador acima, na cor vermelha, tem a mania de sinalizar o momento mais forte de uma tendência, quer de alta ou de baixa. Jamais o vi deixar de divergir dos preços das ações antes do esgotamento de uma tendência de longo prazo.

O problema da teoria de Elliott é que os seus princípios são difíceis de serem aplicados. Nem sempre os critérios são muitos claros, ou talvez seja porque eu não tenho o talento para tanto. Porém eu sei que quando a curva vermelha não mais consegue manter a sua direção de forma persistente e visível, eu sei que ainda teremos o final da onda 3, uma chacoalhada com a onda 4 e, finalmente, a onda 5, quando o mercado testa a convicção até o limite psicologicamente suportável de todos os pessimistas em um bull market e de todos os otimistas em um bear market.

Eu zerei toda a minha posição comprada em bolsa em julho de 2007 e disse para mim mesmo que se o mercado continuasse a subir, subiria sem a minha companhia. Afinal sempre haveria uma outra oportunidade de baixo risco. Não precisa dizer que eu fui desacreditado, acho até de chacota, durante quase um ano, pois, apesar do SPX ter feito topo em outubro daquele ano, o mercado brasileiro, impulsionado por ter obtido o grau de investimento, seguiu subindo sem a minha presença, ignorando o cenário externo. Isso durou até o mês de maio de 2008 quando, finalmente, a tsunami nos atingiu. Mas o que eu perdi? Deixei apenas de abocanhar a sobremesa.

Antes de finalizar, notem algo interessante: em 16 de outubro de 2009, instante identificado na figura 1, o tal indicador registrou a sua melhor leitura no mês de outubro de 2009, justamente o mês em que a maioria dos investidores, apegados às estatísticas do passado, teme pelo mercado. O que ele sinalizava? Sinalizava que qualquer solavanco era para continuar montado na sua posição comprada. Fica uma lição: jamais, jamais compare o mercado com épocas passadas, pois os detalhes fazem a grande diferença.

Guie-se por uma bússola.

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