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Confiança do Consumidor Despenca nos EUA

A confiança do consumidor está em níveis críticos, inclusive consideravelmente abaixo do pior nível registrado no auge da pandemia de 2020. O motivo é evidente: a população americana está aterrorizada com a inflação.

Os indicadores econômicos podem ter a natureza de atrasados, coincidentes ou antecedentes. O mercado de ações por si só é um indicador antecedente, pois ele é precificado com base no que se espera do futuro. Assim, para que o indicador tenha boa serventia ao investidor, ele deve ser ainda mais antecedente que o mercado acionário. O nível de confiança do consumidor nos Estados Unidos, que guarda uma boa correlação com o ritmo da atividade econômica, onde o consumo das famílias representa cerca de 70% do PIB, é um indicador antecedente com um tempo de antecipação (lead time) de 6 a 10 meses em relação ao mercado de ações.

Segundo Jarbas Gambogi, no livro Mercado de Ações Em Quatro Dimensões – Uma Abordagem Behaviorista.

“Muitos analistas consideram o indicador antecedente da confiança do consumidor um dos principais da economia dos EUA, especialmente o dado preliminar que é divulgado pela Universidade de Michigan no decorrer de cada mês. Tanto o The Conference Board quanto a Universidade de Michigan divulgam os seus indicadores de confiança do consumidor. A vantagem do dado de Michigan é a rapidez na divulgação do dado preliminar e da estatística definitiva no início do mês seguinte”.

 

Como a confiança do consumidor impacta a economia e os mercados

O consumidor, quando está com expectativas negativas para a economia e sua condição de vida, acaba por desencadear um ciclo de consequências que tendem a desacelerar a economia e até leva-la à recessão. Vejamos:

Se a inflação está corroendo o poder de compra do salário da população e ela se vê com um aumento do custo de vida sem o acompanhamento da elevação do salário, é natural que as pessoas diminuam seu consumo de bens não-essenciais e comecem a cortar gastos. Esse corte de gastos tende a impactar o resultado das empresas, que começam a vender menos. Com menos vendas das empresas, elas passam a comprar menos matéria-prima, impactando as vendas do fornecedor, e também começam a reduzir custos, como com o corte de funcionários. Os funcionários demetidos, agora sem emprego, também reduzem o nível de consumo.

O ciclo acima já é ruim por si só. Em decorrência dos novos desafios para as empresas, os preços das ações tendem a cair. E a queda do mercado acionário também acaba amplificando a retração do consumidor, pois num país como os Estados Unidos, em que mais da metade da população investe em ações, o desempenho delas impacta diretamente na forma de consumo do povo americano. Se você teve um bom ano no mercado, pode se dar o luxo de trocar de carro e fazer uma viagem de fim de ano. Mas, se você perdeu 20% ou mais do que tem investido em ações, já não está com “gordura para queimar”, e provavelmente irá pensar duas vezes antes de ter novos gastos.

 

Desempenho passado do indicador

Agora será analisado como foi o desempenho da confiança do consumidor em importantes inflexões da tendência primária das ações no passado, como no bear market ocasionado pelo estouro da bolha pontocom (2000) e no estouro da bolha financeira (2008), a fim de verificar se trouxe sinais úteis para o investidor se antecipar ao movimento do mercado.

 

Gráfico de sentimento do consumidor (1999-2000) e SPX.

Sentimento do Consumidor (1999-2000) e SPX.

 

Pode-se ver da figura acima que, enquanto o SPX marcou topo em setembro de 2000, a confiança do consumidor fez seu topo em janeiro daquele ano, e desde lá engrenou em tendência de baixa, fazendo novas mínimas enquanto os preços das ações faziam novas máximas. Portanto, foi muito útil naquele momento, antecipando o mercado-urso em 7 meses.

 

Gráfico de sentimento do consumidor (2007-2009) e SPX.

Sentimento do Consumidor (2007-2009) e SPX.

 

Já no estouro da bolha financeira, também conhecida por crise do subprime, o indicador também foi muito útil, pois enquanto o mercado de ações fazia novas máximas em outubro de 2007, a confiança do consumidor já estava caindo abruptamente desde fevereiro daquele ano. Portanto, sinalizou muito claramente a divergência negativa e com 10 meses de antecedência.

Percebe-se também que ela também auxiliou a identificar a retomada do mercado-touro em 2009, pois enquanto o mercado de ações fazia fundos cada vez mais baixos, o indicador já estava lateralizado há alguns meses e apresentando uma divergência altista, embora nesse caso não foi tão gritante.

 

Os sinais atuais da confiança do consumidor

Atualmente observamos o indicador em nível bastante assustador, como se evidencia na imagem abaixo:

 

Gráfico de sentimento do consumidor (2007-2009) e SPX.

Sentimento do Consumidor (1978-2022).

 

A confiança do consumidor está em níveis críticos, inclusive consideravelmente abaixo do pior nível registrado no auge da pandemia de 2020. O motivo é evidente: a população americana está aterrorizada com a inflação que se encontra nos níveis mais elevados das últimas décadas, e, com o aumento do custo de vida, acabam retraindo o consumo.

Num primeiro momento essa retração tende a atingir o consumo discricionário, ou seja, bens e serviços não essenciais. Porém, quando a situação se agrava, começa a impactar até mesmo bens de consumo essencial, que é o que vem acontecendo em maio de 2022, fato que pode ser comprovado pelos resultados recentes de grandes lojas de departamentos como Walmart (WMT) e Target (TGT) que decepcionaram e trouxeram guidances (expectativa para os próximos trimestres) bastante ruins.

 

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